quinta-feira, 26 de abril de 2012

A ARTE NA FAMÍLIA: acessórios para bonecas


Quando eu e minhas irmãs ganhamos nossas bonecas Susi, no Natal de 1971, minha avó, enquanto estávamos na escola, confeccionou três camas, com pedaços de madeira que ela pegava no marceneiro da esquina, pezinhos de carretel de madeira, com cabeceiras e leito acolchoados com espuma e revestidos em tecido verde, combinando com a colcha com babado de renda (foto) e travesseiro; acompanhava três guarda-roupas feitos com caixa de madeira (de uva) forradas com papel de presente, cortinas de tecido, varão e cabides de arame que ela fez, para pendurar toda a coleção de roupas das bonecas: pijamas em voil e renda, vestidos de baile (foto), conjuntos de calça e colete, vestidos curtos, camisolas e outros. Quando nasceu a primeira neta (Priscilla), começou a fazer roupinhas de crochê para a Barbi (foto).




A ARTE NA FAMÍLIA: o artesanato e a costura

Desde que me entendo por gente (e olha que eu tenho lembranças de quando tinha 3 anos de idade!) me lembro de minha mãe e minha avó Maria fazendo artesanato para complementar a renda familiar: suportes pra pendurar pano de prato ou toalha, feitos com argolas presas em carinhas de baianas  de esponja; velas de espuma feitas em tubos de papelão e bolas de árvore de Natal para enfeitar mesas; bonecas de feltro, com longas pernas  e braços (malandrinho,  soldadinho, chapeuzinho vermelho, bonecas brancas, negras, loiras ou morenas, de cabelos crespos, trancinhas, ou maria chiquinhas, etc - até um capeta uma vez pediram para minha avó fazer quando eu era pequena; ela ficou numa angústia até que vieram buscar a bendita encomenda!); bordados em toalhas, crochê, tricô, cabides enfeitados para enxoval, e vários tipos de outros objetos. A querida e inesquecível vó Maria confeccionou roupas para nós até ficarmos adultas, também para os netos e alguns dos bisnetos.


Minhas irmãs Inês e Ana e eu (2 anos), com roupinhas feitas pela vovó. Este vestidinho era em xarez vermelho bem miudinho e ela aplicou, em recortes, uma jardineira com florzinhas bordadas, no peito e também perto da barra. Era lindinho.

Eu (6 anos) com vestido feito pela vovó.

Estas roupinhas eram para o carnaval. Tinham veludo no peito e babado com duas cores na saia. Estávamos com martelinho de carnaval nas mãos e com cara de "ué". Será que o sol estava forte demais pra olhar pra câmera? Ou a vontade de ir para o carnaval não era muito grande? Eu adoro menininhas de maria chiquinha e trancinha.

Nesta casa, que aparece o jardim na primeira e terceira fotos, moramos até os 3 anos. Fica no Bairro Suift e passei em frente há alguns anos. Qualquer hora vou criar coragem e ir até lá, pedir para entrar e vivenciar o tamanho da casa, do quintal, do banheiro, da cozinha, que pra mim estão muito nítidos, no olhar de uma criança de 3 anos.


domingo, 22 de abril de 2012

PROPOSTA 6 - Chegada do outono, os sentidos, classificação, as formas e as cores


Temas: Chegada do outono, os sentidos, classificação e contagem das frutas, as formas e as cores.
Livro: “Calor e frio, frutos e flores” (Mary e Eliardo França – Editora Ática)
CD: “A árvore e a aranha” (Texto de Ruben Alves e Música de Ivan Vilela – CD Quatro Estórias).
Pintura: “Natureza Morta” de Agostinho da Motta e “Natureza Morta” de Cândido Portinari.
Objetivo: Trabalhar os temas; conhecer as obras dos pintores; oportunizar momentos de sensibilização dos sentidos, observação da natureza, contagem e classificação, reflexão e conhecimento, expressão oral e criativa.
Atividade: Leitura da história e troca de impressões; audição e apreciação da história musicada; observação, classificação, nomeação e contagem das frutas trazidas de casa: forma, cor, cheiro, sabor (no lanche); montar uma cena da natureza morta numa mesa no centro da sala, selecionando quatro frutas de cores e formas diferentes; representar a natureza morta, levando em consideração a posição das frutas e a imagem que vê, de onde está sentado.
Observação: Trabalho individual.

 Manipulação das frutas utilizando o tato, a visão e o olfato.
Enquanto as crianças desenhavam e pintavam, algumas se aproximavam para ver mais de perto (Carolina, Larissa e Raphael).
Observação de detalhes, enquanto a turma desenha.

Gabriela – 6 anos

Gustavo – 6 anos

Vários trabalhos.


PROPOSTA 5 - Campo, plantação, imigração, escravidão e etnias


Temas: Campo/plantação, imigração, escravidão e etnias.
Livro: “Na roça” (Mary França – Ática).
Pintura: Obra “Café”, de Portinari.
Música: “Alabe” (tocador de atabaque), do CD “Okanawa” – Cânticos da tradição yorubá, de Inaycira.
Objetivo: Trabalhar os temas campo, plantação, etnia/imigração e escravidão; conhecer as obras do pintor; oportunizar momentos de reflexão e conhecimento, expressão  oral e criativa.
Atividade: Leitura da história e troca de impressões; audição e apreciação da música; conversa sobre a vinda dos negros ao Brasil, os motivos e conseqüências; observação da obra pela professora, sem que as crianças vissem; a partir de uma atividade lúdica (encomenda de um quadro pelo telefone, feita pela Madame Castro) com descrição da imagem retratada, os alunos deverão representar a cena utilizando grafite e lápis de cor sobre papel, sem entrar em contato com a obra; após, observar a pintura e conversar sobre as próprias produções, semelhanças e diferenças, como cada um representou a cena.
Observação: Trabalho individual.

 “Café”, de Cândido Portinari, 1935, óleo sobre tela.
 Gustavo – 6 anos
João Victor – 6 anos


PROPOSTA 4 - Cidade, campo, meios de transporte


Temas: Cidade/campo, meios de transporte.
Livro: Série “Falando de trânsito” (Marcelo Luiz Pabst – Sabida Edições), “O trem” (Mary França – Ed. Ática), “Maria Fumaça” (Bernardino – Ed. Ática).
Música: “Trenzinho Caipira” de Villa-Lobos.
Objetivo: Trabalhar os temas cidade/campo, meios de transporte; conhecer as obras do compositor Villa-Lobos; oportunizar momentos de sensibilização através da música, observação, expressão oral e criativa.

Atividade A: Ouvir as histórias e a música; trocar impressões sobre a música; criar imagens a partir dos sons; oralizar; brincar de trenzinho enquanto ouve novamente a música, criando diversos trajetos.
Observação: Trabalho coletivo.



Atividade B: Pesquisar em revistas, recortar e colar um meio de transporte; criar uma imagem para completar a cena, utilizando giz de cera.
Observação: Trabalho individual.

 Gabriela – 6 anos

 
Matheus - 6 anos
 
 Odivaldo - 5 anos

Raphael – 6 anos (locomotiva da Maria Fumaça)





PROPOSTA 3 - Maternidade e etnia


Tema: Maternidade e etnia.
Livro: “Vamos Margarida” (Jane Simmons – Ed. Salamandra), “O beijo” (Valérie D’Heur – Ed. Brinque-Book)
Pintura: “Mãe”, de Cândido Portinari, e retratos produzidos por Tarsila do Amaral e Cândido Portinari.
Objetivo: Trabalhar os temas maternidade e etnia; conhecer as obras do pintor; oportunizar momentos de reflexão sobre o papel da mãe ou de outra pessoa que o assume, na falta dela; expressão criativa e da imagem mental.

Atividade A: ouvir as histórias; trocar impressões e experiências sobre o tema mãe; observar as obras e trocar impressões; representar a imagem da mãe a partir da lembrança dos traços físicos do rosto, dos cabelos e cor da pele, utilizando grafite e lápis de cor sobre papel.
Observação: Trabalho individual.



 Pâmela – 6 anos
Jamile - 5 anos
Kael  – 6 anos

Luani - 5 anos



Atividade B (para a mãe fazer com a criança no dia das mães - a cópia da história foi enviada com as orientações da atividade no caderno de recados, com antecedência): Ler a história “Vamos Margarida” para o(a) filho(a), conversar sobre as formas de cuidar, utilizadas pela mãe (ou responsável por este papel) e representar a conversa, utilizando retalhos de pano, papel, botões, lã, tinta, etc, no suporte prato de papelão, oferecido pela escola; exposição na escola.
Observação: Trabalho individual.


Trabalhos com a utilização de diversos recursos (recorte, colagem, costura, pintura) e materiais (palitos, rendas, tecidos, figuras, macarrão, botões, fitas). 

PROPOSTA 2 - Esquema corporal, auto-estima, etnias


Temas: Esquema corporal, auto-estima, etnias.
Livro: “Menina bonita do laço de fita” (Ana Maria Machado – Ed.Ática), “A história de cada um” (Juciara Rodrigues – Ed. Scipione); “Portinari” (Coleção Crianças Famosas) e “Tarsila do Amaral” (Nereide S. S. Rosa, Editora Callis).
Pintura: Auto-Retratos da Tarsila do Amaral e de Portinari e “Menina Sentada”, de Portinari.
Objetivos: Trabalhar os temas etnia, auto-estima e esquema corporal; conhecer as obras dos pintores; oportunizar momentos de auto-observação e expressão criativa.
Atividade: Ouvir as histórias; conhecer os pintores e observar suas obras; representar a própria imagem a partir da observação das obras e de si mesmo no espelho, observação dos traços físicos do rosto, dos cabelos e cor da pele, utilizando grafite, lápis de cor  e guache sobre cartolina.
Observação: Trabalho individual.


 “Auto-Retrato I”, de Tarsila do Amaral, 1924, óleo sobre tela.


 Bruna – 6 anos

 Evander - 6 anos

Matheus – 6 anos

PROPOSTA 1 - Etnias, imigração, profissões, meio ambiente.


Temas: Etnias, imigração, profissões, meio ambiente.
Livro: “Tanto, tanto!” (Trish Cooke – Trad. Ruth Salles – Ed. Ática); “A história de cada um” (Juciara Rodrigues – Ed. Scipione).
Outros recursos: pesquisa sobre a profissão dos pais.
Pintura: “Operários”. De Tarsila do Amaral.
Objetivo: Trabalhar os temas etnia/imigração, profissões e meio ambiente; conhecer as obras da pintora; oportunizar momentos de observação e reflexão, expressão oral e criativa.
Atividade: ouvir as histórias; observar a obra; trocar impressões; criar uma imagem baseada na obra, utilizando papel, grafite, giz de cera ou lápis de cor, recorte e colagem.
Observação: Trabalho individual
 “Operários”, de Tarsila do Amaral, 1933, óleo sobre tela.

 Angélica – 6 anos

Evelin - 6 anos

Luani – 6 anos

2004

TEXTO: A PARCERIA ENTRE A ARTE E A LITERATURA INFANTIL NO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO PEDAGÓGICO - 2004


RESUMO
A implantação de espaços para a organização de bibliotecas em escolas municipais, a ampliação de acervos, atreladas a um trabalho de formação de professores para a dinamização destes espaços, foi possível através do Programa Bibliotecas Escolares da Secretaria Municipal de Educação de Campinas, desenvolvido de 1993 a 2000. A partir de 2001 o Programa assumiu outro formato, permanecendo os espaços e a manutenção do pagamento de professores para organizá-los e dinamizá-los. Sem o assessoramento específico, anteriormente oferecido aos professores e escolas, as parcerias com empresas e o apoio de outras instituições, alguns espaços se perderam ou se descaracterizaram; parte dos professores que já desenvolviam o trabalho nas bibliotecas abandonou o trabalho, novos professores assumiram esta função, mesmo sem a formação específica e outros ainda procuraram se adequar às novas condições, utilizando-se da formação adquirida no passado, quando eram assessorados por uma equipe da própria Secretaria de Educação do município. O objetivo deste trabalho é divulgar o projeto de uma escola que assumiu essa característica, a EMEI “Reino Encantado”, que além de dar continuidade ao trabalho de leitura proposto anteriormente, integrou-o ao trabalho de Arte-Educação, iniciado efetivamente em 2003, incorporando os dois projetos ao Projeto Pedagógico da Escola. Esta integração objetiva enriquecer a prática pedagógica, articulando literatura, obras e artistas aos temas e assuntos integrantes do planejamento, ampliar a leitura e a cultura de professores, alunos e, também, da comunidade, contribuir para a sensibilização, para o desenvolvimento da auto-estima dos alunos, da expressão criativa de todos os envolvidos e servir como referência para novas criações.  Apesar de a Biblioteca ainda não possuir um espaço próprio, mesmo depois de inúmeras solicitações, ocupando boa parte do refeitório desde 1994, a equipe de professores mantém um planejamento de ampliação do acervo,  realizando pesquisas para a seleção e aquisição de novos títulos; o acervo literário dá suporte para o desenvolvimento do projeto pedagógico, fornecendo os títulos que auxiliam, fundamentam e/ou ilustram os temas desenvolvidos, envolvendo os  profissionais e as famílias dos alunos na dinamização dos livros de literatura infantil. Já a arte, uma das mais antigas linguagens humanas, tem uma importância que se encerra em si mesma, pois é inclusiva por si só; é integração, pois permite mesclar temas e assuntos de várias áreas ou disciplinas - independente de estar em alguns momentos a serviço delas -, mas precisa ser construída, reconstruída e apropriada pelas pessoas. Um dos espaços mais democráticos para se ter acesso a este patrimônio é a escola, onde, na maioria das vezes, a arte é relegada a segundo plano, apesar da necessidade de a formação do indivíduo ser integral. O interesse dos alunos pelos conteúdos programados, a partir do trabalho integrado entre literatura infantil e arte, demonstra crescimento, pois os temas se identificam com suas experiências e conhecimentos trazidos para a escola e, conseqüentemente, as atividades se tornam mais significativas.

I- INTRODUÇÃO: DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO ANTERIOR À EXPERIÊNCIA

A) O Conflito Gerando Mudança:
Trabalhando na área de educação infantil desde 1994 e, portanto, há dez anos, comecei a me incomodar com a utilização quase freqüente, de cópias via xerox para o desenvolvimento das atividades relacionadas com os conteúdos trabalhados. A sensação que eu tinha era de que estas atividades praticamente prontas, forçavam uma “motivação” e que o interesse dos alunos pelos temas não era suficiente para que a aprendizagem ocorresse de forma significativa. A motivação das crianças diante das atividades lúdicas se diferenciava demais da motivação em relação às atividades que exigiam uma sistematização através de desenho, pesquisa, recorte, colagem, escrita espontânea.

B) O Suporte Pedagógico através dos Livros:
Os livros de literatura sempre estiveram presentes na sala de aula e, enquanto monitora ou coordenadora do Programa Bibliotecas Escolares, ampliei significativamente meu conhecimento sobre o tema leitura e biblioteca escolar.
A equipe responsável por esse programa da Secretaria Municipal de Educação de Campinas, da qual fiz parte, coordenou os trabalhos de 1994 até 2000, assessorando, aproximadamente 600 professores de 120 escolas de educação infantil e fundamental, na organização de bibliotecas e no trabalho de dinamização da leitura, produzindo material de leitura e pesquisa, organizando atividades e eventos como palestras, oficinas, campanhas de arrecadação de livros de literatura e concursos literários para professores e alunos (em parceria com empresas e shoppings e com apoio de jornais locais), participando de congressos e seminários e realizando mostras de trabalhos durante este período. O objetivo geral do programa era ampliar o conceito de biblioteca escolar, dinamizando e incentivando a leitura de informação, pesquisa e lazer.
Meus critérios para seleção dos livros foram se modificando ao longo desse período, diante da quantidade de lançamentos de pouca qualidade, com os quais me deparava, tanto em relação aos textos quanto à ilustração, e também diante dos lançamentos de muita qualidade. Muitos títulos objetivam apenas dar um suporte pedagógico ao professor e essa não é a característica mais importante de um livro de literatura infantil; ele precisa fazer algum sentido para o leitor, ter relação com algo que faça parte de sua vida: sentimentos, acontecimentos, reflexões, desejos, dúvidas ou simplesmente pelo texto gostoso de se ouvir (ou ler) ou pela ilustração que enche os olhos de tanta beleza. Pode provocar o aluno para que se expresse, socialize suas reflexões ou se cale; queira representar seu pensamento utilizando papel, giz, lápis ou não. Na minha opinião, não convém atrelar a leitura do livro com a representação da história através de desenho, com muita freqüência, pois a repetição excessiva da atividade causa a sensação de obrigatoriedade e desinteresse.
Uma das atividades básicas que a biblioteca mantém é o empréstimo de livros, semanalmente, para alunos e familiares. A criança escolhe o livro que levará para casa, onde os pais, irmãos mais velhos ou avós poderão ler para ela, quantas vezes quiser, durante o fim de semana. Às vezes, na escolha seguinte, a criança pega o mesmo livro ou o indica para o colega. No retorno à aula, na segunda-feira, as crianças que quiserem podem trocar suas impressões sobre o livro lido, contar a história que leram, qual a parte que mais gostaram etc. Outra atividade básica é o Mural de Leitura da Família, que é pendurado na cerca da escola todos os dias e tem seus textos trocados semanalmente. São crônicas, poesias, charges, curiosidades, temas de interesse público, etc.

C) O Suporte da Formação Artística:
Como também dei aulas de violão durante vinte anos e participei de vários cursos de desenho e pintura, levava o violão uma vez por semana, para tocar e cantar com os alunos das duas classes do período da manhã, no qual leciono e, aos poucos, iniciar as crianças no trabalho da bandinha.

D) A Valorização das Produções dos Alunos:
Em relação às representações gráficas, sempre procurei valorizar as criações e produções individuais dos alunos, mostrando que cada trabalho mostra um pouco do que conhecemos e do que somos e, por isso, temos que fazê-los com carinho e capricho e cuidar para que não estraguem ou se pecam, principalmente quando levados para casa. O trabalho com os pais, em relação ao respeito pelas produções das crianças, também tem sido freqüente, principalmente nas reuniões bimestrais.
Em 1995 a Secretaria de Educação comprou aproximadamente 100 livros para cada escola que participava do Projeto Biblioteca, antigo nome do Programa Bibliotecas Escolares. Os títulos foram selecionados com muito critério, seguindo sugestões de listagens de premiados. Foi então que  as escolas receberam cerca de 10 livros da Coleção Crianças Famosas, da editora Callis. Eram livros biográficos de compositores e pintores famosos, desde a infância até começarem a se destacar nos estudos. Em minha escola e, com certeza na maioria das demais escolas que receberam a coleção, as histórias não eram muito lidas para as crianças, por causa da extensão do texto; os livros eram mais utilizados para empréstimo. Precisavam ser melhor aproveitados, mas sem outro recurso que os completasse não se tinha idéia de como fazê-lo.

Em função de minha relação com a literatura infantil, a música e as artes plásticas (parte em função da formação e vida profissional e parte em função do interesse e oportunidades da vida pessoal), propus-me a estudar e envolver os demais professores da escola em meu processo de busca por um trabalho mais significativo e menos “xerocopiado”. Para isso, propus um grupo de formação em arte-educação, que acabou envolvendo mais três escolas municipais de educação infantil vizinhas, com boa participação das professoras e também de monitoras de creche.

II-CONTEXTUALIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA

            Na Emei Reino Encantado, no Pq Fazendinha, a renda familiar das crianças é baixa, embora a maioria dos pais (pelo menos um do casal) estejam empregados. Existe uma estruturação familiar, na maior parte dos casos. Das 112 crianças da escola, consta que apenas duas estudam um instrumento musical  e tem pais músicos. A grande maioria dos alunos somente tem acesso a livros de literatura, vai ao cinema, ao teatro e a passeios através da escola. Nos fins de semana a maioria das famílias costumam ficar em casa, visitar algum parente e ou passear num shopping. Assistem com bastante freqüência a programas de TV aberta. Apesar dos nossos esforços e estratégias é bastante difícil atrair os pais para o acervo de literatura, apropriada aos adultos, à disposição na nossa Biblioteca.


III- A EXPERIÊNCIA: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO EM ARTE-EDUCAÇÃO

Formou-se em agosto de 2003 um grupo com onze professoras e uma monitora, todas atuando em 4 escolas municipais de educação infantil próximas, nos bairros Santa Bárbara, São Jorge e Fazendinha, na região Norte de Campinas, com o propósito de estudar, planejar e realizar conjuntamente trabalhos que integrassem literatura, música, artes plásticas e outras manifestações ao planejamento pedagógico das escolas e seus temas, como também a comunidade de pais das crianças pertencentes à escola.
Assumi, com o apoio formal da Secretaria Municipal da Educação, a coordenação do trabalho e do grupo, que no início se reunia quinzenalmente na Emei Reino Encantado, escola em que atuo. Neste ano de 2004, o grupo passou a se reunir semanalmente e conta com a participação de dez professoras e duas monitoras.
Foram estabelecidos os seguintes objetivos para o trabalho:

O TRABALHO COM AS EDUCADORAS 

-Fundamentar os educadores para a prática;

-Conhecer o acervo de livros existente em suas escolas, assim como os lançamentos;
-Estudar a História da Arte: conhecer aquilo que foi construído pela humanidade, desde a arte da pré-história até o contemporâneo;
-Conhecer artistas e refletir sobre as diversas formas de expressão artística: desenho, pintura, colagem, teatro, dança, música, escultura, mímica e outras, com seus variados estilos, materiais e técnicas;
-Pesquisar e selecionar livros de literatura infantil que auxiliem o desenvolvimento do trabalho, assim como outras fontes: CDs, livros de arte, gravuras, músicas, vídeos, textos etc);
-Discutir, criar e programar as atividades com alunos;
-Visitar exposições de arte e de livros.

 O TRABALHO COM OS ALUNOS
-Conhecer a diversidade de títulos do acervo da biblioteca, de acordo com os temas trabalhados e pela livre escolha;
-Conhecer, apreciar e trocar impressões sobre as diversas formas de expressão artística (desenho, pintura, colagem, teatro, dança, música, escultura, mímica);
-Conhecer, através de livros, os artistas selecionados e suas obras, de acordo com os temas do Projeto Pedagógico;
-Valorizar suas próprias produções;
-Experimentar as formas de expressão selecionadas, com seus variados estilos, materiais e técnicas.

IV- DESENVOLVIMENTO DAS AÇÕES

No inicio, enquanto esperava aprovação por parte da Secretaria de Educação para o início das reuniões com as educadoras, providenciei, através de cópias xerocopiadas, gravuras dos pintores, relacionados na Coleção “Crianças Famosas” da Editora Callis, e confeccionei, inicialmente sozinha, painéis com essas gravuras. Com a ajuda de um estúdio, montei e reproduzi dois CDs com duas músicas de cada compositores, também abordados na mesma coleção. O restante dos livros da coleção foi adquirida pela escola juntamente com as coleções “Artistas Famosos”, “Artistas Brasileiros”, da mesma editora, e outros livros que fundamentam o trabalho. O acervo de literatura infantil, que já dava suporte aos temas trabalhados também continua a ser ampliado anualmente.
É nos encontros semanais que acontece todo o trabalho de estudo, conhecimento de obras e artistas, ampliação de leituras de livros, revistas e jornais sobre cultura, realização de atividades práticas com música e vídeo, discussões, trocas de experiências, etc.
De acordo com as atividades elaboradas e/ou sugeridas, é necessário providenciar a aquisição de materiais ao longo do trabalho (papéis, tintas, argila, diversos materiais que podem servir de suporte, etc)
Os livros de literatura infantil e/ou biográficos pertencentes ao acervo da Biblioteca da Escola norteiam o contato com as obras artísticas e apóiam os trabalhos de discussão e elaboração de atividades, integrando literatura e arte-educação aos conteúdos do planejamento anual, que distribui os temas a serem trabalhados por bimestre, numa seqüência que busca interligar um tema ao outro. A atividades básicas do trabalho são: leitura de livros de acordo com os temas trabalhados, utilização de músicas e gravuras de artistas, articulados aos temas, leitura das histórias biográficas dos artistas, troca de impressões e experiências pessoais, apreciação das obras (musicais ou plásticas), criação e/ou releitura através de atividade prática (diversas expressões), localização geográfica dos países de origem dos artistas no globo terrestre, assim como os aspectos referentes ao contexto em que viveram, observação de paisagens, desenho e pintura, canto, dança, dramatização, recitação, exploração dos instrumentos da Banda Rítmica da escola, criação de histórias a partir de imagem, etc. A seqüência e quantidade de atividades a serem desenvolvidas não são fixas, por serem planejadas de acordo com os objetivos estabelecidos para o tema trabalhado e por cada uma das educadoras.

V- UMA PALAVRA SOBRE OS RESULTADOS

            Em relação ao meu trabalho em sala de aula, que já acontecia baseado em bons livros, percebi que a arte-educação foi incorporada de forma a substituir os modelos prontos, desenvolvendo atividades que motivam a sua realização. Todos os temas que trabalhamos podem ser desenvolvidos com arte, proporcionando momentos de criatividade, imaginação e prazer.
Em relação às educadoras, houve crescimento do entusiasmo e da confiança de cada uma no trabalho com a arte, de forma gradual, além da ação com o livro, que já fazia parte da sala de aula, no desenvolvimento do planejamento. No início, tudo era muito novo: o desconhecimento das obras, compositores e pintores, e as dúvidas em relação à dinâmica do trabalho eram grandes. Isso se deve, em parte, ao fato de a maioria não freqüentar eventos artísticos (exposições, apresentações de música, teatro e dança, etc). Aos poucos, conforme as reuniões semanais foram acontecendo, com estudos, trocas de experiências, dinâmicas, observações de gravuras, audição de músicas, etc, as educadoras começaram a se sentir mais seguras para experimentar, apesar de ainda estarem bastante dependentes das discussões e incentivos do próprio grupo.
O interesse dos alunos pelos conteúdos programados, a partir do trabalho integrado entre literatura infantil e arte, tem crescido sensivelmente, pois além dos temas se relacionarem com suas experiências e conhecimentos trazidos para a escola, as crianças sentem imenso prazer em ouvir histórias, cantar, dançar, desenhar, pintar, modelar, sujar as mãos com tinta e argila e ouvir música; conseqüentemente, as atividades se tornam significativas. Pedem para colocar a música trabalhada novamente no dia seguinte, para ouvir, para dançar, assim como solicitam a leitura dos livros de literatura. Sentem prazer em observar as gravuras e em mostrar seus trabalhos aos colegas, pois estão valorizando mais suas produções e as dos outros. Todos os dias me perguntam quando levarão seus trabalhos para casa. Outro ponto interessante que tenho observado é o crescimento no desenvolvimento do desenho, com aperfeiçoamento dos traços e maior cuidado na elaboração e cuidado com o material.

IV- BIBLIOGRAFIA

BRASIL.  Ministério   da   Educação  Fundamental.  Referência
           curricular  para  a  educação infantil/Ministério da Educação
           fundamental.- Brasília: MEC/SEF, 2001.
BATTISTONI Filho, Duílio. Pequena História da Arte. Campinas:  
           Papirus, 1991.
ROSA, Nereide S. SantaTarsila  do  Amaral. São  Paulo:   Callis,
           1998.
VON, Cristina. As Mil Cores. São Paulo: Callis,  2002.
FORSLIND, Ann. Cores: Jogos  e  Experiências. São Paulo: Callis, 
           1996.
FORSLIND, Ann. Pinturas: Jogos e Experiências. São Paulo: Callis,
           1997.
MOULIN, Nilson e Matuck, Rubens. Portinari: “Vou pintar aquela
           gente...”. São Paulo: Callis, 1997.
GRIMSHAW, Caroline. Arte: Conexões! São Paulo: Callis, 1998.
GRIMSHAW , Caroline. Música: Conexões! São Paulo: Callis,
          1999.
Coleção Gênios da Pintura. Editor Victor Civita. Abril Cultural.
Coleção Viajando através da História. Editora Scipione.

MARIA LÚCIA BACHIEGA KOLOKATHIS
2004